O médico me mandou sair.
Disse que se eu olhasse a anestesia, a chance de eu cair duro para trás seria alta. Se isso acontecesse, não haveria ninguém para cuidar de mim. Todos ali, tinham sua atenção voltadas a minha esposa e o bebê, sempre.
Eu sai. Me sentei numa cadeira onde fosse possível espiar o que acontecia dentro da sala. Tive medo de me esquecerem ali.
A enfermeira que passava me perguntou se eu estava nervoso. Fiz que não. Ela então reparou na minha perna esquerda, balançava involuntariamente. Eu reparei também. Era nervoso, sim.
Eu agora me levanto, a perna esquerda me escapa o controle de novo, quase não me levanta, então eu ando de um lado para o outro. Agora são em minhas mãos que correm um rio, elas nunca haviam suado tanto. Eu enxugo nessa calça laranja. Porque laranja? Será que eu podia ter enxugado a mão na roupa?

Lavei novamente as mãos. Fiz igual o obstetra, esfreguei das pontas dos dedos ao cotovelo aquele monte de espuma. Pronto, agora está tudo limpo outra vez.
Choro de bebê, será o meu?
Estou aqui na porta plantado pra ver. Não era. Era o do lado. Será que o médico vai lembrar de me chamar? Melhor eu ficar por aqui, na porta.
Agora outro pai se junta a mim. Também de laranja, também balançando a perna, também suando um rio pelas mãos. Agora éramos dois siriris rodando a luz do corredor.
O médico deu o sinal. Eu entrei.

Nasceu meu filho. Nasceu um pai.
Eu o segurei nos braços pela primeira vez. Era um peso leve da vida, era uma vida pesando delicadamente sobre mim. Creio que dentro de mim.
A isso dão o nome de paternidade. Eu chamo de Paieternidade.

Texto: Rafael Ferreira
Fotos: Ana + Rafa